Nesta página você encontrará sugestões de trabalhos com os livros de literatura ou de outros temas escritos por mim e sugestões que poderão ser aplicadas em qualquer trabalho pedagógico.

Trabalhos interessantes que eu encontrei por aí, em minhas andanças nas viagens literárias, com livros específicos, você poderá encontrar no link relato de trabalho com o livro, logo após a sinopse do livro.

 
     
 

RELATOS DE TRABALHOS COM O LIVROS

Relato de trabalho com o livro Treze Contos
Relato de trabalho com a coleção Tantas Histórias
Relato de trabalho com o livro Uma Conversa de Muita Gente

 
     
 

FAÇA-SE LEITOR

Não há milagres nessa história: ou você, educador, mediador, bibliotecário, orientador de leitura, pai e mãe, se faz leitor ou... nada feito. Não se ensina o gosto pela leitura se não se tem esse prazer na vida. Não se ensinam caminhos para melhor ler se não se sabe fazer isso. Por essa razão, quem tem a tarefa (gostosa) de incentivar e despertar o gosto pela leitura tem que ser leitor. Se ainda não é, vá se fazendo. Não tem outro jeito.

 
     
 

PRA QUE SERVE UMA LEITURA DE UM LIVRO

É comum: alguém que não valoriza a leitura, que ainda não tem noção clara da importância da leitura, poderá perguntar para que serve a leitura (ou a compra) de um determinado livro. É fácil de responder: a leitura de um livro serve para... ler!

A pergunta que deve ser proposta é outra: “o que cabe dentro de uma leitura?”.
Essa é mais fácil ainda de responder. Em uma leitura cabe um mundão de coisas: cabe o estranhamento, a comparação, o envolvimento, a descoberta de outros horizontes, novas dúvidas e algumas certezas, a emoção do que é diferente, a alteração do que já se sabe e do que ainda não se sabe, a mudança da geografia do conhecimento, a busca por novos caminhos, o conserto dos caminhos antigos, o esgarçamento de fronteiras, os sonhos, os medos, os segredos, as palavras todas, alguns silêncios e muitos barulhos, todas as vozes do mundo...

Tá de bom tamanho ou quer mais?
 
     
 

LER COM E LER PARA

Uma atividade de bastante consistência é ler para alguém. Essa atividade pode se tornar ainda mais interessante se a leitura for permeada de paradas, de comentários, de sugestões, de provocações. Aí está o cruzamento dessas duas leituras (para e com). Isso é diferente de ler “pelo” outro.
Imagine, por exemplo, você lendo um trecho do meu livro O TESOURO PERDIDO DO GIGANTE GIGANTESCO, no momento em que surge o País Não-para-nada-no lugar. Em vez de provocar o ouvinte a pensar nisso e, desse modo, incentivá-lo a formar a sua imagem desse país, você dá a sua versão, a sua explicação, o seu entendimento, tirando do ouvinte a possibilidade de criar e recriar essa imagem. Você, desse modo, está se colocando no lugar do outro, fazendo por ele uma leitura que deveria ser dele.
Leia para quem quiser ouvir. Ler e ouvir a própria voz é gostoso. Além disso, treina e modula a voz.

 
     
 

TENHA A SUA BIBLIOTECA

Vá aos poucos constituindo uma biblioteca para chamar de sua. Os livros têm olhos, cheiros, vozes, desejos, mãos, ouvidos, palavras, vida. Os livros são parceiros de tantas horas. Incentive as pessoas próximas de você, principalmente as crianças e os jovens, a formarem sua biblioteca.
 
     
 

DESCUBRA O SEU CANTO PREFRIDO PARA LER

É isso. Se escolhemos roupas, lugares para passear, para conversar, para refletir, etc. por que não escolher um lugar somente seu para se esparramar e ler. Mais do que esparramar o corpo em uma poltrona, sofá, rede ou banco, o negócio é esparramar a mente. Mente esparramada, mesmo esparramada, nunca ocupa muito espaço e  é fonte de prazer.

Fuja da cama. Livro e cama não combinam. Livro não é remédio para insones nem sonífero para ajudar a dormir, nem passatempo para os minutos anteriores à chegada do sono. Livro, ao contrário, é fonte de prazer, de aprendizagem, de pensamento, de imaginação, de pulsação. Se o livro é bom e bate com o seu espírito... ah! Aí você perderá o sono.
 
     
 

TEXTO NÃO É PRETEXTO... OU PODE SER?

Algum tempo atrás, discutimos muito essa questão. Quando surgiram os Parâmetros Curriculares, foi uma loucura. De todos os lados. As editoras procurando descobrir a serventia de cada livro do seu catálogo, qual o seu enquadramento nos tais parâmetros. Aliás, foram tempos difíceis, pois até para escrever tínhamos que pensar nos “encaixes parametrais”. Do outro lado, os estudiosos defensores da pureza da literatura: os textos literários não devem se prestar a esse serviço. Literatura é literatura e não serve para outra coisa que não seja a leitura.
Sempre achei essa questão uma falsa questão. Depois de escrito, o livro toma rumos que ninguém sabe, ninguém controla, ninguém imagina, ninguém determina. E, claro, tenho certo para mim que todo livro foi escrito com um pretexto e pode sim ser pretexto para outros tantos textos e contextos.
Que cada um leia e vá se fazendo leitor e decidindo o espaço da leitura em sua vida, encaixando os livros em sua história, mantendo com eles o diálogo que bem entender.

Um dia, eu escrevi um texto com linhas, círculos, retas e cores, chamado A HISTÓRIA DA BOLINHA CURIOSA. O texto foi publicado no suplemento Folhinha de S.Paulo e depois virou livro. Livro publicado, esse texto foi parar nas mãos de psicólogos e de formadores de educadores como pretexto para se discutir a vida, a aprendizagem, o crescimento. Quem diria!?
 
     
 

PLANEJAMENTO E REGISTRO

Isso vale para muitas coisas na vida. Fazer bem feito significa quase sempre fazer de modo planejado, pensado, estruturado. Se o trabalho com um livro de literatura é feito após um bom planejamento, o resultado será muito melhor.
Planejar esse trabalho significa: a) você escolher o livro com o qual gostaria de trabalhar; b) ler o livro mais intensamente para curti-lo e para entrar de cabeça nele  e c) bolar algumas práticas para o trabalho de leitura. Claro, ouça dicas e receba sugestões, mas você deve ser o autor dessa história. Conhecer bem o livro com o qual vai trabalhar é o primeiro (e fundamental) passo para um bom trabalho.
Se caiu em suas mãos, por exemplo, um livro meu chamado AMORECO, leia os oito contos: um por dia, um por hora ou um a cada dez minutos. Saboreie os contos, sinta-se como personagens dos contos, imagine os seus leitores navegando por ali. Pense um pouco sobre a estrutura narrativa do conto, veja o que os contos do livro podem sugerir para estudo dessa estrutura narrativa.

Desenvolva o costume de fazer anotações durante a leitura. Observações que poderão ajudá-lo depois na condução da leitura, nas pistas, na relação do texto com outros textos. Cada conto é único no seu sentido do começo ao fim e, por ser único, permite anotações. Da mesma forma que um escritor tem um repertório de ideias – que cada escritor cria e desenvolve do seu jeito -, um educador, mediador de leitor ou familiar deve ter o seu repertório de trabalhos, de possibilidades, de sugestões. E registrar no seu caderno de anotações as boas ideias que muitas vezes são pertinentes ao livro que está sendo lido e preparado para um trabalho. Registre suas boas ideias, seus bons trabalhos... e partilhe-os. Uma alegria de um bom trabalho deve ser compartilhada.

O registro escrito, a outra metade da leitura, sempre será uma fotografia de um momento de uma história. Os registros permitem a volta, a consulta, a lembrança, a mudança, a releitura, a retomada. Registros dão sentido à história de cada um de nós.
 
     
 

CADEIRA DO/A AUTOR/A

Uma atividade bastante interessante e muito gostosa é a cadeira do autor. Na impossibilidade de um autor estar presente no seu espaço de leitura para conversar com os leitores, a cadeira do autor é uma ótima substituição. Simples assim: uma cadeira será escolhida e reservada para esta atividade. Nela, de modo alternado, poderão sentar-se leitores investidos da função de se passar pelo autor. No momento em que estiver sentado na cadeira do autor, cada um dos leitores responderá perguntas formuladas pelos demais leitores. Quem for o “autor da vez” deverá responder as perguntas como se fosse o próprio autor que ali estivesse. Pertinência, criatividade e demonstração de compreensão da leitura entrarão em cena.
Uma variante dessa atividade pode ser feita colocando-se na cadeira uma personagem do texto lido. Os demais leitores perguntarão ao leitor ali sentado e investido da personagem o que quiserem. As perguntas e as respostas indicarão o bom rumo do trabalho e o nível de compreensão da leitura.

Imaginem, após a leitura do livro O TESOURO PERDIDO DO GIGANTE GIGANTESCO, um menino ou uma menina sentado/a na cadeira como se fosse o gigante da história. E as perguntas todas possíveis nesse momento, incluindo aquelas que a leitura do livro provocou e que ficaram abertas na narrativa.
 
     
 

DICAS CONTRA O ESTRESSE NA VIDA MODERNA
(uma ajuda de custo para leitores no meio do caminho)

1. Tenha livros, jornais e revistas por perto
Livros, jornais e revistas matam a sede de água e acalmam a fome de comida. Não cobram pedágio nem imposto de circulação de ideias. Leitura não é tarifada, não mede pulsos, não mexe no seu bolso. O acesso é ilimitado. O diálogo também.

2. Escolha uma pessoa por semana para conversar
Conversar sobre leituras. Sobre suas opiniões, suas interpretações e entendimentos. Sem medo, com prazer. Fale o que pensou sobre o que foi lido. Descarrega as energias ruins e prepara o coração sentimentos bonitos. A pessoa? Ah! Nesse caso não importa muito, desde que ela queira ouvir você.

3. Escolha uma pessoa por semana para ouvir o que ela tem a dizer
Ouça. Ouvir faz bem. Você aprende com os outros. Ouvindo, você descansa e oferece aos outros oportunidade de falar. Há poucas coisas tão gostosas na vida quanto ouvir alguém que quer falar. AH! Se a pessoa quiser falar sobre o que leu no jornal ou no último livro, estimule-a. De repente, aí pode estar  uma dica para sua próxima leitura.

4. Escolha momentos na vida para sumir desse mundo
Calma, calma, calma. Não é nada do que você está pensando. Afaste esse pensamento ruim. A proposta é a seguinte: dedique parte do seu tempo diário para ler. Escolha um lugar gostoso (o sofá da sala, a cadeira do almoxarifado, o banco do ônibus, o banco da praça) e desligue-se. Entre de cabeça na leitura: saia desse mundo e entre em outro possível.

5. Viaje sem sair do lugar
Foque sua leitura. Entre no clima. Solte a imaginação. Pergunte-se e pergunte ao texto. Encha-o de porquês estranhos, diferentes, curiosos, gozados, interessantes, incomuns. Viaje na possibilidade. Tente adivinhar o que virá pela frente. Teste sua capacidade de levantar hipóteses. Jogue com o texto. E ganhe. Sempre.

6. Dê livros de presentes
Faça uma festa com isso. Mande bilhetes, insinue, atice a curiosidade do futuro presenteado. Convença-o da gostosura que vai receber. Explique ao homenageado que um livro é para ser lido, amado, saboreado, comido com os olhos, acariciado com as mãos, apertado no peito. Ensine o amigo presenteado, se ele ainda não souber, que um livro faz carinhos no cérebro.

7. Seja curioso/a
Acredite: a curiosidade desloca o ar dos pulmões, abaixa a pressão, faz o sangue circular mais vertiginosamente, acalma os nervos. Seja curioso, pelo menos duas vezes ao dia. Visite novos objetos de leitura, descubra seções interessantes nos jornais, procure entender o que está por trás do que você leu, pergunte o que seus amigos, colegas de trabalho e chefes estão lendo.

8. Passeie com livros
Há gente que gosta de passear com cães, outros com gatos. Há os que adoram passear de carro. Outros de bicicleta. Seja você um sujeito alternativo, uma pessoa diferente: passeie com livros. Os livros não podem gasolina nem coleira nem gastam sola de sapato. Livro é dócil e aceita ser levado a todo lugar. Não pede consumação, não pede sorvete. Só pede atenção e companhia. E retribui em triplo.

9. Leia poemas
Escolha poemas novos, espere o relógio anunciar vinte horas e dezesseis minutos, e ponha-se a ler poemas especiais ao som de todos os barulhos que compõem sua vida. Procure encontrar o tom exato para cada verso. Os versos agradecerão e sua emoção também.

10. Não acredite em listas de dicas contra estresse
Não acredite mesmo. Principalmente porque a gente é diferente de tudo o que as listas pregam. Mas... se for uma lista contra o estresse da vida moderna que dá dicas sobre livros, leitura e quetais, pode acreditar que dá certo.

 
     
 

DETALHES DE CADA LIVRO

Cada livro é especial do seu jeito e tem sua “aura” particular. Cada livro tem um quê de especial. Basta ler com um pouco mais de atenção e você perceberá isso. É assim com o livro do Gigante Gigantesco e sua frenética busca por seu tesouro. A palavra tesouro nos leva inadvertidamente a pensar em valores materiais, moedas, pedras preciosas. No entanto, para surpresa de todo mundo o tesouro do gigante não é nada disso. É outra coisa, algo totalmente fora de nosso pensamento. Surpreende e diverte, e faz pensar. Assim, ao trabalhar a leitura desse livro com os leitores pode ser muito interessante atentar para esse detalhe, mesmo antes de se chegar à descoberta do tesouro do gigante. E levar os leitores a pensar um pouco em sua vida e se perguntar “qual é o meu tesouro?”. Muitas surpresas surgirão como resposta a essa pergunta.

 
     
 

ESTRUTURAS POROSAS

Um texto é uma estrutura porosa, um tecido cheio de buracos, à espera de preenchimento. A história particular de cada um conversa e tece outras tramas com a história do texto. E daí sai um novo texto, revigorado, preenchido, mas ainda assim cheio de outros buracos e porosidades,  aberto a novas textualidades. Nesse sentido, toda leitura é única e dela podem resultar outras leituras, diversas da anterior e das anteriores. Toda leitura, se atenta, levará a novas leituras e novas criações. Um sujeito leitor jamais sairá de mãos vazias de uma leitura.
Esse é o mote para sempre e a inspiração fundamental de todo trabalho com livros de literatura e similares a ser desenvolvido por mediadores de leitura.