Aqui você encontrará pequeninos textos sobre pequeninas curiosidades da minha vida de escritor, da minha obra, dos bastidores. São reflexões paralelas à minha à obra, muitas respostas às perguntas que sempre fazem nas entrevistas. São o meu jeito de ver, o meu jeito de ser, o "my way".
 
     
 

EXAME DE ADMISSÃO

Aos dez anos, em 1959, saindo do quarto ano primário (o que hoje corresponde ao quinto ano de ensino fundamental), tive que prestar uma prova, na época conhecida como "exame de admissão", para poder entrar no ginásio. Naquela época era assim: só seguia em frente quem passasse nesse tal exame de admissão. Os pobres e os menos preparados iam ficando para trás. Eu, pobre, superei essa barreira e lá fui para o ginásio.

 
     
 

MATA-BORRÕES

Os mata-borrões tiveram uma época áurea de existência, na década de cinqüenta. Escrever com caneta bico de pena era um tormento. Sujava mais do que tudo e o uso do mata-borrão para limpar os borrões de tinta era tudo de bom. Depois de seco, os borrões formavam imagens interessantes. Ainda não tinha chegado na minha cidade uma das maiores invenções de todos os tempos: a caneta esferográfica.

 
     
 

CANETA ESFEROGRÁFICA

E, por falar em caneta esferográfica, durante muito tempo, antes da chegada do computador, eu escrevi vários dos meus livros usando caneta esferográfica de cor preta. Não era uma superstição; era vício prazeroso. Como hoje, que gosto de escrever no computado com o tipo verdana, tamanho doze ou catorze.

 
     
 

VACA ESTRELA

Muitas histórias que escrevi me foram contadas. Eu adorava ouvir, como creio que todo escritor gosta, e depois transformar as histórias ouvidas em histórias escritas. Foi assim, por exemplo, com muitas histórias escritas no livro TREZE CONTOS. Uma delas, que traz boas recordações da convivência com uma amiga diretora de escola é a Vaca Estrela. Onde andará a querida Ezaltina, que me contou esta história?

 
     
 

"SEO" ZEQUINHA

Quando moleque, aos onze, doze e treze anos, uma das coisas de que mais gostava era ouvir os "causos" contados pelo Seo Zequinha, caboclo trabalhador braçal de lavoura, pai de um dos meninos da minha turma. Ele se sentava na tosca calçada de sua casa, depois do banho e da janta, e enquanto enrolava e tentava manter aceso um cigarro de palha de milho e fumo de corda, contava para nós, ouvintes atentos, causos de medo, de terror, de estranhamento, de almas do além... Alguns desses "causos", recontados, estão no meu SETE GRITOS DE TERROR.

 
     
 

SETE GRITOS DE TERROR

Durante muitos anos, quando meus três filhos ainda eram pequenos, entre a década de setenta e de oitenta, nas longas viagens para a casa dos avós paternos, Judi e Lico, para gastar o tempo e fingir que a viagem era curta, eu contei e recontei dezenas de vezes alguns dos causos ouvidos do Seu Zequinha e outros do meu pai. Contei tanto, tanto, que a certa altura, eles já estavam escritos na minha cabeça. Foi só sentar e datilografar (ainda não existia o tal do PC, mais conhecido pelo apelido de computador). Foi um tiro só. Até hoje, as histórias escritas no livro Sete Gritos de Terror são um grande sucesso de leitura nas mãos da meninada.

 
     
 

PARQUE IBIRAPUERA

Muitos dos meus livros, eu escrevi no Parque Ibirapuera. Esse parque maravilhoso, um dos lugares mais bonitos da capital paulista, foi o quintal dos meus filhos e de seus amigos. Todos os sábados e domingos, depois do almoço, lá estávamos nós, de mochila pronta. E nessa mochila, o bagageiro de um veículo, cabiam bicicletas, bolas, brinquedos, lanche, uma cadeira e meus cadernos e ou livros. Enquanto eles brincavam, um de olho no outro, eu escrevia. Delícia para todos.

 
     
 

OS SEGREDOS DA BILOCA

O DIÁRIO DE BILOCA, um dos meus livros mais conhecidos e, certamente, o de maior vendagem, foi escrito a partir de agendas que as meninas, na década de oitenta, tinham. Eram agendas especiais, pois nelas cabiam, além dos escritos, uma série de outras coisas que eram coladas: guardanapos, convites, bilhetes, papel de diversas embalagens, ingressos de espetáculos... qualquer coisa que dissesse algo para sua autora. Minha filha e quatro de suas amigas me emprestaram suas agendas, confiando seus segredos ao escritor, para que eu me inspirasse e tirasse dali ideias para um livro. Prometi nunca revelar nenhum segredo delas. Fiz isso e fiz o meu livro mais famoso.

Bastidores

 
     
 

FICÇÃO E REALIDADE

Sempre me perguntam se meus livros retratam pessoas ou episódios da vida real. Respondo, sempre, que não. Tanto as pessoas quanto os episódios passam por uma mexida na minha imaginação e ganham vida de outra forma. Podem até me inspirar, mas nunca são nem serão a mesma coisa.

 
     
 

NOMES DOS CONHECIDOS

Adoro usar o nome de pessoas conhecidas, amigas, principalmente, em minhas personagens. Apenas o nome. Não reproduzo as pessoas e suas características nas personagens. Empresto apenas os nomes.

 
     
 

MINHA CABEÇA, MINHA OBRA

Também me perguntam com muita frequência de “onde você tira as ideias para escrever”. Antes de responder, sugiro que a pergunta deva ser mudada para “como as ideias surgem em sua cabeça”? Aí dá para responder mais claramente. As ideias, todas elas, estão no mundo, na frente da gente, ao lado, no meio, em cima, embaixo, em todos os lados: basta prestar atenção e deixar que elas entrem em sua cabeça, em sua imaginação. Chamamos isso de “repertório” de ideias.

 
     
 

REPERTÓRIO DE IDEIAS

Um bom repertório de ideias é fundamental para um escritor. Muitas vezes perdemos “ideias” numa fração de segundos ou depois de uma noite mal dormida ou depois de um susto, de um passeio... Por isso, tenho sempre comigo um caderninho, feito por mim mesmo, de folhas brancas sem linhas, onde vou anotando tudo. Boas ideias, ideias nem tão boas, ideias outras que podem se juntar a outras e outras e virarem um bom começo para alguma coisa.

 
     
 

FICÇÃO E REALIDADE II

Um dos episódios que aconteceram perto de mim e depois transformei em conto é o CASO DO REVÓLVER, que está publicado no livro Treze Contos. Aconteceu mais ou menos daquele jeito e foi matéria para escrever a história. Hoje, tanto tempo depois, revólver em escola, já não é algo tão maluco assim, infelizmente. Na época foi um acontecimento.

 
     
 

PISANDO EM NUVENS

Uma das maiores emoções da minha vida foi quando peguei o meu primeiro livro impresso e pronto para ganhar o mundo: GABRIEL TERNURA, publicado pela Edições Loyola, em maio de 1979. Emoção muito grande, impossível de retransmitir e explicar. Eu pisava no chão, mas... não tinha chão.

 
     
 

QUAL É O SEU TESOURO?

O livro O TESOURO PERDIDO DO GIGANTE GIGANTESCO já completou trinta anos, em 2013. Uma marca, uma vitória. Lembro-me claramente do que me inspirou o livro, um objeto de imenso prazer para a minha filha Liza (que não posso revelar aqui, pois tiraria parte grande do prazer de ler o livro). Transformei a ideia em uma história de quatro capítulos, os quais foram publicados na FOLHINHA DE SÃO PAULO, em quatro domingos seguidos. Depois virou livro.

 
     
 

MAURÍCIO DE SOUZA

Escrevi as histórias do PAÍS DOS AVESSOS também para a Folhinha de S. Paulo, numa época em que era colaborador frequente desse suplemento do jornal Folha de S. Paulo. Foram várias semanas e muitas cartas e participação dos leitores, numa época em que nem imaginávamos algo parecido com a comunicação via internet dos dias de hoje. O mais legal disso é que, na época, o Maurício de Souza, criador da Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão, ilustrava a Folhinha e as principais personagens do livro nasceram ilustradas pelas mãos desse craque. As ilustrações da primeira edição do livro, em 1983, foram feitas pelo estúdio do Maurício.

 
     
 

AS IDEIAS SURGEM SEM AVISO PRÉVIO

Nem sempre acontece, mas pode acontecer: dormindo, uma ideia muito boa aparece. Se você é daqueles que quando acorda, pela manhã, não se lembra do que sonhou...babau... lá se foi uma boa ideia embora. Acontece muito comigo.

 
     
 

O OVO OU A GALINHA?

Sempre me perguntam,  “o que nasce primeiro: o título ou a história?” . Alguém sabe a resposta para a pergunta “quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?”? Pois é...digo o mesmo. Às vezes o título aparece primeiro, pois em si ele já é uma ideia. Outras vezes, na maioria dos casos, o título é feito por último. E há os casos dos livros que têm o seu título mudado inúmeras vezes até se chegar ao definitivo. Outras vezes título e história nascem juntos.

 
     
 

PROCURANDO TÍTULOS PARA O LIVRO

Um dos meus primeiros livros, hoje fora de catálogo, se chamou PEDAÇOS DE PAIXÃO. Um livro com histórias de amor para jovens , escrito e publicado nos anos oitenta. Nasceu com o nome de O Manequim e outros contos, mas o nome definitivo, mais bonito e mais pegador, foi dado pelo meu querido amigo Pedro Bandeira.

 
     
 

30 ANOS DO LAMBISGOIA

Meu livro LAMBISGOIA, que antes da reforma ortográfica tinha um acento na base do ditongo OI, foi ilustrado pela talentosíssima Eva Furnari. O livro ficou o que ficou também pelo talento dela. Hoje, ela ilustra somente os seus trabalhos. Tenho sorte que esse livro, ainda publicado, trinta anos depois da primeira edição, continua com as ilustrações dela.

Bastidores

 
     
 

LUGAR PREFERIDO PARA ESCREVER

Sempre me perguntam se tenho um lugar preferido para escrever. Respondo que até gostaria de ter: um escritório amplo, com vidro em lugar de parede e uma vista privilegiada para um jardim verde. Mas... como não tenho, escrevo onde dá e onde posso e onde estou. Escrevi muito na cozinha de minha primeira casa; escrevi muito no Parque Ibirapuera; escrevi muito na varanda da casa de minha mãe, na cidade onde nasci. Também escrevo em aeroportos, em rodoviárias, às vezes em quartos de hotel e, eventualmente, na casa de algum dos meus filhos. Escrever é assim: um vício que não tem hora nem lugar certos. Ou melhor, tem hora e lugar certos: qualquer hora, qualquer lugar.

 
     
 

MEU ALTER EGO

A personagem Rei Linguão, do livro HISTÓRIAS DO PAÍS DOS AVESSOS, é uma daquelas personagens que me acompanha sempre. Está sempre às voltas comigo, reclamando os seus direitos como personagem, querendo aparecer mais e sempre mais. O Rei Linguão está sempre por perto.

 
     
 

APRENDER A OUVIR NÃO

Lidar com críticas é sempre muito difícil. Ninguém gosta de ser criticado. Quando escrevo, e faço o melhor que posso, espero sempre uma crítica favorável, boa, positiva. E quando ela não vem ou quando vem diferente do que eu gostaria, preciso lidar com isso. Aprendi ao longo da vida que nem tudo é como a gente quer, como a gente gostaria que fosse. E saber lidar com isso, com a diferença, com a adversidade, com o outro lado, é uma questão de aprendizagem. E é preciso aprender a ouvir o não, o não gostei, não está bom, não quero, não dá. O não faz parte do sim.

 
     
 

MEMÓRIAS DOS TEMPOS DA DITADURA

Meu único livro que tem inspirações em fatos que realmente vivi é o MEMÓRIAS DA GUERRILHA IMAGINADA, hoje fora de catálogo. Será uma lição pra eu não me meter a besta e misturar ficção com realidade? Será? Mas, na vida, ficção e realidade, muitas vezes se confundem de tal forma que fica difícil estabelecer onde acaba uma e começa outra.

 
     
 

MOLESKINE

Tenho a mania de escrever e fazer anotações em pequenos cadernos que eu mesmo monto, com folhas de sulfite em branco arroladas em uma espiral, formando uma pequena brochura semelhante a um moleskine. Nesses cadernos, cada um com um nome diferente, eu anoto "de um tudo": ideias, títulos, frases, resumos, arquitetura de livros, primeiras versões. Enfim, um caderno parecido com um caleidoscópio, misturando coisas, ideias, sentimentos, anotações, datas, sensações...Não ando para lugar nenhum sem levar o caderninho da vez!

 
     
 

HORA BOA

Não tenho uma hora preferida para escrever. Mas gosto de escrever pela manhã, entre seis e nove horas, e à noite, depois das nove horas. Raramente escrevo à tarde ou de madrugada.

 
     
 

PAIS MODERNOS

Recentemente li uma reportagem com o título de PAI MODERNO. Achei interessante focalizarem este assunto nos dias de hoje. Com bastante atraso, aliás. Há quase quarenta anos, eu já fui um pai moderno. Lavar fraldas de pano (as descartáveis quase não existiam e eram caríssimas), dar comida, levar e buscar os filhos nas escolas, cuidar e passear, entre outras atividades, sempre fizeram parte do meu cotidiano. Além do amor incondicionado pelos três filhos, Liza, Kiko e Paulinho. A ponto de um amigo meu, corintiano roxo, dizer que eu era um mau exemplo para os homens.

 
     
 

ATITUDES DE QUEM GOSTA DE ESCREVER

Para quem gosta de escrever – e até pensa em ser escritor profissional – sugiro três atitudes básicas: ler bastante (de tudo), estudar um pouco a gramática da língua e escrever sempre (mesmo que seja para guardar ou jogar fora). Em todas as atitudes, o que está por trás é a formação do seu repertório. Claro, profissionalmente, as coisas mudam de figura e só isso não basta. Sorte é fundamental: estar no lugar certo, na hora certa, conhecer a pessoa certa, ter pedigree.

 
     
 

AMIGO DO REI

Ainda sobre atitudes para quem gosta de escrever, lembro que não bastam o "engenho e arte", como preconizou o ilustre poeta luso Camões. O bom mesmo é ser amigo do rei, como decretou magistralmente Manuel Bandeira no seu antológico Vou me embora para Pasárgada. O amigo do rei sempre escolhe a cama que quiser...

 
     
 

KIKO

Dos meus filhos, apenas um se enveredou pelo caminha das artes escritas e ilustrativas. O Francisco, de nome artístico Kiko Garcia, é ilustrador e criador de histórias em quadrinhos. Cria o roteiro, desenha, produz, divulga e vende. E vai se virando e fazendo o seu nome numa área que tem ganhado cada vez mais espaço na preferência dos leitores.

 
     
 

ILUSTRADORES/ILUSTRADORAS

Nem sempre é o escritor quem escolhe o ilustrador. Na maioria das vezes quem decide o nome do profissional que ilustrará o seu livro é o pessoal da editora. Quase nunca conversamos com o ilustrador. Um buraco no relacionamento que acho imperdoável. Nas raras vezes que tive oportunidade de indicar o ilustrador, adorei o resultado.

 
     
 

CRITÉRIOS PARA A PUBLICAÇÃO DE LIVROS

Publicar livros não é uma coisa extremamente difícil, mas também não é muito fácil. Um texto original passa, depois da autoria, por muitas leituras e análises, inclusive do ponto de vista do mercado, antes de ser escolhido para ser publicado. Nunca se sabe quais os critérios reais que uma editora tem para decidir por este ou aquele original. Isso faz parte das regras do jogo.

 
     
 

GOSTAR DE ESCREVER CONTOS

Gosto muito de escrever contos. Os contos são estruturas, geralmente narrativas, pequenas, com poucos personagens, de um só núcleo narrativo. Como se fossem flashes do cotidiano. Um conto já nasce pronto, ou quase, na cabeça de um escritor. Já vem meio pronto. E pode ser escrito de uma só "sentada". E pode ser lido de uma só vez, como um delicioso gole de uma boa bebida. Já escrevi muitos contos, infantis e juvenis, muitos deles na coleção MENINOS & MENINAS, da Edições Loyola.

 
     
 

COISAS DE QUE GOSTO MUITO

Sempre me perguntam isso. Curiosidade dos leitores que às vezes pensam que o escritor é uma pessoa diferente. São tantas as coisas de que gosto... Gosto, por exemplo, de conversar com as pessoas. Sempre haverá um olhar diferente, um jeito diferente de ver o mundo, uma opinião diversa. Também gosto de assistir tevê. Às vezes escolho uma novela para acompanhar. Assim também aprendo novas técnicas de escrita com os craques da televisão. Adoro cerveja, quibe, charuto, feijoada, salada, churrasco... conversar na hora das refeições é também uma delícia.

 
     
 

COISAS DE QUE GOSTO MUITO II

Gosto muito de futebol e sempre assisto a jogos de futebol. Já fui muito a estádios. Hoje, vou raramente. Prefiro ver os jogos instalado em uma poltrona, em uma sala gostosa, na companhia de pessoas de quem gosto. De preferência, um jogo do meu time preferido. Melhor ainda quando o time ganha.

 
     
 

COISAS DE QUE GOSTO MUITO III

Ler e escrever. Muito. Sempre, o tempo todo, em qualquer lugar.
Ler, porque repõe idéias, aumenta meu repertório, me instiga, cutuca, me sugere novas escritas, me faz viajar sem sair do lugar, me faz sonhar coisas que nem imaginava e me faz pensar coisas antes nunca pensadas. Porque, sobretudo, abastece a minha escrita.
Escrever, porque este é um ato de reorganização da vida, de entendimento das coisas. Escrever é como fotografar momentos da vida.
O resultado fica registrado e permite voltar a ele sempre que possível, necessário e desejável.
Ler e escrever se completam, namoram, passeiam de mãos dadas. É um jeito único de romper a barreira dos limites que todos temos.

 
     
 

COISAS DE QUE GOSTO MUITO IV

Descobri recentemente que viajar é um raro prazer (mesmo com os desprazeres dos imprevistos que possam surgir durante uma viagem). Aqui, falo da viagem física, real, concreta, de um lugar para o outro.
As pessoas, não importa em que mundo você esteja, são muito parecidas: elas amam, constroem, rezam, comem e bebem, plantam e colhem, embelezam-se, dormem, trabalham, divertem-se e fazem intervenções na natureza.
Você anda pelo mundo todo, para descobrir que, no fundo, bem lá no fundo, somos todos muito parecidos. Nossas diferenças estão mais para serem olhadas, enquanto nossas semelhanças estão mais para serem guardadas em nossa essência (que alguns chamam "alma").

 
     
 

LER POEMAS

Gosto muito de ler poemas. Muito mesmo. Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, entre os mais antigos, são os meus preferidos. Da turma de hoje, Adélia Prado e Manuel de Barros. Embora não leia muito, tenho um gosto crítico meio mal humorado. Poesia é o tipo de obra que para ser lida tem que ser bem escrita. Não dá para ler qualquer coisa que caia nas minhas mãos e que se intitule "poesia". Fazer boa poesia é para poucos. Não basta juntar palavras, abusar da falta de rima e da métrica, em nome da modernidade, para chamar qualquer punhado de palavras adocicadas de "poesia". Todo mundo, antes de se meter a escrever poesias, deveria passar por um curso intensivo de leitura de boas poesias. Para ter uma noção da beleza poética. Da beleza enormemente envolvente que há, por exemplo, nos versos da letra da melodia de A Felicidade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes "a felicidade é como a pluma/que o vento vai levando pelo ar/voa tão leve/mas tem a vida breve/precisa que haja vento sem parar". Não é demais? Faz a gente ter vergonha de escrever qualquer coisa depois de ler esses versos.

 
     
 

SALA DO DIRETOR DA ESCOLA

Durante os anos que ocupei o cargo de diretor de escola, minha sala sempre esteve com a porta aberta para quem quisesse entrar e falar. Poucos foram os momentos em que trabalhei com a porta fechada, por alguma razão especial. A porta, sempre aberta, convidava todo mundo a entrar e conversar um pouco. Os meninos e meninas também. Não era raro eu receber, para um dedo de prosa, um/a menino/a.  Naqueles momentos eu não sabia direito se eu era um diretor de escola que era escritor ou se era um escritor que era diretor de escola. O certo é que de lá, das conversas, das histórias que ouvia, nasceram muitas das coisas que escrevi. Tempos de intensa criatividade.